quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O CÂNONE DA SÉTIMA ARTE – PARTE II

O simples fato de eu ter mencionado aqueles filmes como marcos iniciais de um gênero ou período demonstra que a importância que esses filmes adquiriram deve-se, em grande parte, ao que eles revolucionaram na arte cinematográfica. Ora pois, que contribuições um filme como As Branquelas (2004) fez para a inovação do cinema tanto tecnicamente quanto artisticamente? NADA! De fato, esse filme não passa de um pasticho mau feito e pouco criativo de Quanto mais quente melhor, de Billy Wilder, e de tantos outros clássicos da comédia que transformam o travestismo em comédia de erros.

A questão, porém, é muito mais problemática. Geralmente, quem aponta se um filme é bom ou ruim são os críticos de cinema e, dependendo da opinião e credibilidade do crítico de cinema, um espectador pode ir ou deixar de ir ao cinema. Temos, portanto, um juízo subjetivo que interfere de maneira objetiva numa realidade concreta, a qual deveria estar isenta de interferências de natureza passional.

O que diferencia um bom filme atual de um bom filme clássico? O que diferencia Onde os fracos não têm vez de Bonnie & Clyde? A resposta é simples: o tempo. É somente o tempo que é capaz de dizer se algo é efêmero ou intemporal, e o mesmo se dá em relação aos filmes. Todavia, há um sem-número de bons filmes, mas aquilo que compõe a noção de um cânone do cinema não se aplica apenas aos bons filmes, mas sim aos filmes que têm o valor representativo de instituir um paradigma ou de rompê-lo. Nem o valor de obra-prima é capaz de canonizar um filme ou não.

Tomemos como exemplo O Sol é para todos (1962), de Robert Mulligan. Não há dúvidas de que este filme seja uma obra-prima, bem como o musical My Fair Lady – Minha Bela Dama (1964), de George Cukor. Se nós compararmos esses dois filmes com alguns dos melhores filmes da atualidade, como, por exemplo, O Pianista (2002), de Roman Polanski, ou Sangue Negro (2007), de Paul Thomas Andersen, (Este, inclusive, foi comparado por muitos críticos, na época de seu lançamento, ao maior de todos os filmes, Cidadão Kane), ainda assim O Sol é para todos seria considerado um filme maior, apesar de não haver dúvidas de que Sangue Negro seja, daqui a alguns anos, apontado como um dos pilares do cinema contemporâneo.

O cânone estabelece-se pela importância histórica que adquirem os elementos que o compõem, ou seja, é difícil afirmar se um filme será parte do cânone quando este for lançado nos cinemas. Sem o olhar dissecador do tempo, há o perigo de se cometer equívocos, às vezes, irreversíveis. A história mais famosa destes equívocos, e são tantos, aconteceu na cerimônia do Oscar de 1942, quando Cidadão Kane, considerado o melhor filme já feito, faturou apenas o Oscar de roteiro original, perdendo os prêmios de melhor direção, melhor fotografia e melhor filme para Como era verde o meu vale, de John Ford. Como era verde o meu vale é um bom filme, muito superior aos que Hollywood produz hoje em dia, mas parece loucura ter de aceitar que fora este filme que desbancou a obra-prima de Orson Welles.

Entre outros erros históricos da Academia, podemos destacar: o Oscar de melhor ator que John Wayne ganhou por Bravura Indômita, em detrimento da performance perfeita de Dustin Hoffman em Perdidos na Noite, na edição de 1970; O Bom Pastor, de Leo McCarey, faturar o Oscar de melhor filme, em 1945, ao invés de Pacto de Sangue, de Billy Wilder, obra-prima par excellence; Além destes casos mais famosos, há, ainda, outros injustiçados pela Academia, como: Laranja Mecânica, A Primeira Noite de um Homem, Intriga Internacional, Cantando na Chuva, Doutor Fantástico, Psicose, 2001: Uma Odisséia no Espaço, O Tesouro de Sierra Madre, Taxi Driver, Apocalypse Now, A Cor Púrpura, entre outros. Talvez, no intuito de desfazer estes equívocos da Academia, a revista de cinema Sight &Sound passou a divulgar a cada década a lista dos melhores filmes já feitos.

A S&S divulgou as listas dos melhores filmes já feitos em 1952, 1962, 1972, 1982, 1992 e 2002.

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