quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O CÂNONE DA SÉTIMA ARTE – PARTE III

“Mudam-se os tempos, mudam-se os gostos”

O que, à primeira vista, poderia resolver o problema, de fato, trouxe consigo outros maiores. Comparemos as listas de 1952 e 1962:

BFI – 1952

1. Ladrões de Bicicleta (De Sica)
2. Luzes da Cidade (Chaplin)
2. Em Busca do Ouro (Chaplin)
4. O Encouraçado Potemkin (Eisenstein)
5. Intolerância (Griffith)
5. Louisiana Story (Flaherty)
7. Ouro e Maldição (von Stroheim)
7. Trágico Amanhecer (Carné)
7. O Martírio de Joana D’Arc (Dreyer)
10. Desencanto (Lean)
10. A Regra do Jogo (Renoir)

BFI – 1962

1. Cidadão Kane (Welles)
2. A Aventura (Antonioni)
3. A Regra do Jogo (Renoir)
4. Ouro e Maldição (von Stroheim)
4. Contos da Lua Vaga (Mizoguchi)
6. O Encouraçado Potemkin (Eisenstein)
7. Ladrões de Bicicleta (De Sica)
7. Ivan, o Terrível (Eisenstein)
9. A Terra Treme (Visconti)
10. O Atalante (Vigo)

A primeira posição ocupada, na lista de 1952, por Ladrões de Bicicleta (1948) foi substituída por Cidadão Kane (1941), na lista de 1962. Desde a primeira posição existe uma incongruência, pois, na nova lista, deveriam estar presentes apenas os filmes produzidos entre o período de 1952-1962, o que não ocorre. Da primeira lista, os únicos remanescentes são: Ladrões de Bicicleta (1948), de Vittorio de Sica, A Regra do Jogo (1939), de Jean Renoir, Ouro e Maldição (1924), de Erich Von Stroheim, e O Encouraçado Potemkin (1925), de Sergei Eisenstein. Por outro lado, seis filmes inéditos aprecem na segunda lista: O Atalante (1934), de Jean Vigo, A Terra Treme (1947), Ivan, o Terrível (1944), de Sergei Eisenstein, Contos da Lua Vaga (1953), de Kenji Mizoguchi, A Aventura (1960), de Michelangelo Antonioni, e Cidadão Kane (1941), de Orson Welles. De fato, os únicos filmes que não poderiam estar na primeira lista são Contos da Lua Vaga e A Aventura, pois foram produzidos depois de 1952. O que é surpreendente é o fato de dois filmes de um diretor tão consagrado e canonizado como Charles Chaplin serem excluídos da segunda lista. Na terceira lista, surgem mais divergências:

BFI – 1972

1. Cidadão Kane (Welles)
2. A Regra do Jogo (Renoir)
3. O Encouraçado Potemkin (Eisenstein)
4. 8 1/2 (Fellini)
5. A Aventura (Antonioni)
5. Persona (Bergman)
7. O Martírio de Joana D’Arc (Dreyer)
8. A General (Keaton)
8. Soberba (Welles)
10. Contos da Lua Vaga (Mizoguchi)
10. Morangos Silvestres (Bergman)

A primeira posição foi mantida por Cidadão Kane. A terceira lista marca, também, a evolução de A Regra do Jogo, que ascendeu da 10ª posição, na primeira lista, e 3ª posição, na segunda lista, para a 2ª posição na terceira. A Aventura cai três posições, indo do segundo para o quinto lugar. O Martírio de Joana D’Arc, 7º na primeira lista, e que ficou de fora na segunda, reaparece novamente na 7ª posição. Entre os novos filmes temos: Morangos Silvestres (1957) e Persona (1966), de Ingmar Bergman, A General (1928), de Buster Keaton, Soberba (1942), de Orson Welles, e 8 ½, de Federico Fellini. Ficaram de fora da terceira lista: Ouro e Maldição (1924), de Erich Von Stroheim, O Atalante (1934), de Jean Vigo, A Terra Treme (1947) e Ivan, o Terrível (1944). Eis a quarta lista:

BFI – 1982

1. Cidadão Kane (Welles)
2. A Regra do Jogo (Renoir)
3. Os Sete Samurais (Kurosawa)
3. Cantando na Chuva (Kelly, Donen)
5. 8 1/2 (Fellini)
6. O Encouraçado Potemkin (Eisenstein)
7. A Aventura (Antonioni)
7. Soberba (Welles)
7. Um Corpo que Cai (Hitchcock)
10. A General (Keaton)
10. Rastros de Ódio (Ford)

Cidadão Kane e A Regra do Jogo mantêm suas posições. O Encouraçado Potemkin, A Aventura e A General perdem posições. Os Sete Samurais (1954), de Akira Kurosawa, aparece, pela primeira vez na lista, já na terceira posição, assim como Cantando na Chuva (1952), de Gene Kelly e Stanley Donen. Um Corpo que Cai (1958), de Alfred Hitchcock, e Rastros de Ódio (1956), de John Ford, também estréiam na lista.

Em 1992, ocorre uma mudança. Agora, além da lista dos críticos, há a lista dos diretores de cinema.

BFI – 1992

Lista dos Diretores:

1. Cidadão Kane (Welles)
2. 8 1/2 (Fellini)
2. Touro Indomável (Scorsese)
4. A Estrada da Vida (Fellini)
5. O Atalante (Vigo)
6. O Poderoso Chefão (Coppola)
6. Tempos Modernos (Chaplin)
6. Um Corpo que Cai (Hitchcock)
9. O Poderoso Chefão 2 (Coppola)
10. O Martírio de Joana D’Arc (Dreyer)
10. Rashomon (Kurosawa)
10. Os Sete Samurais (Kurosawa)

Lista dos Críticos:

1. Cidadão Kane (Welles)
2. A Regra do Jogo (Renoir)
3. Era uma vez em Tóquio (Ozu)
4. Um Corpo que Cai (Hitchcock)
5. Rastros de Ódio (Ford)
6. O Atalante (Vigo)
6. O Martírio de Joana D’Arc (Dreyer)
6. A Canção da Estrada (Ray)
6. O Encouraçado Potemkin (Eisenstein)
10. 2001: Uma Odisséia no Espaço (Kubrick)

A hegemonia de Cidadão Kane é mantida nas listas dos diretores e dos críticos. A Regra do Jogo mantém-se em segundo. Na lista dos críticos, temos a reaparição de O Martírio de Joana D’Arc, bem como de O Atalante. Estréiam 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, A Canção da Estrada (1955), de Satyajit Ray, e Era uma vez em Tóquio (1953), de Yasujiro Ozu. O Encouraçado Potemkin, presente desde a primeira lista, ocupa a 6ª posição.

Na lista dos diretores, no entanto, aparecem filmes que até então não haviam sido mencionados, como: Rashomon (1950), de Akira Kurosawa, O Poderoso Chefão I e II (1972-74), de Francis Ford Coppola, Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin, A Estrada da Vida (1954), de Federico Fellini, e Touro Indomável (1980). Em relação à lista de 1982, há novamente a presença de 8 ½, Os Sete Samurais, Um Corpo que Cai e Cidadão Kane.

As últimas listas divulgadas pela BFI, por meio da revista Sight & Sound, em 2002, foram as seguintes:

BFI – 2002

Lista dos críticos:

1. Cidadão Kane (Welles)
2. Um Corpo que Cai (Hitchcock)
3. A Regra do Jogo (Renoir)
4. O Poderoso Chefão e O Poderoso Chefão 2 (Coppola)
5. Era uma vez em Tóquio (Ozu)
6. 2001: Uma Odisséia no Espaço (Kubrick)
7. O Encouraçado Potemkin (Eisenstein)
7. Aurora (Murnau)
9. 8 1/2 (Fellini)
9. Cantando na Chuva (Kelly, Donen)

Lista dos diretores

1. Cidadão Kane (Welles)
2. O Poderoso Chefão e O Poderoso Chefão 2 (Coppola)
3. 81/2 (Fellini)
4. Lawrence da Arábia (Lean)
5. Doutor Fantástico (Kubrick)
6. Ladrões de Bicicleta (De Sica)
6. Touro Indomável (Scorsese)
6. Um Corpo que Cai (Hitchcock)
9. Rashomon (Kurosawa)
9. A Regra do Jogo (Renoir)
9. Os Sete Samurais (Kurosawa)

Na lista dos críticos, a única novidade é Aurora (1927), de F.W. Murnau, além da volta de Cantando na Chuva. Há, também, algumas trocas de posições. Maiores mudanças ocorrem, no entanto, na lista dos diretores. Os dois primeiros filmes da trilogia O Poderoso Chefão aparecem na segunda posição, atrás somente do imbatível Cidadão Kane. Ladrões de Bicicleta, fora desde a lista de 1962, retorna à 6ª posição. Doutor Fantástico (1964), de Stanley Kubrick, é surpreendentemente eleito o quinto melhor filme, relegando outro filme do diretor que vinha em escala ascendente nas listas anteriores, 2001: Uma Odisséia no Espaço. Igualmente surpreendente é a presença de Lawrence da Arábia (1962), de David Lean, no quarto lugar. A maior incoerência não é a ascensão imediata do épico de David Lean, mas sim a rejeição que o filme sofrera até 2002, não estando presente em nenhum TOP 10 da revista britânica.

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